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O conflito é inerente a natureza humana. São duas as forças que impulsionam o comportamento do indivíduo levando-o a se colocar diante das situações. Há uma força instintiva e primitiva, a qual não é regida pelo controle e se manifesta de forma livre e impulsiva.

Esta força pode ser identificada como os desejos e necessidades, revelada através de mecanismos como sonhos, atos falhos, desenhos ou gestos gráficos. Nossos comportamentos são regidos em parte por esta força que nos impulsiona para a obtenção da realização, para o prazer imediato e da qual muitas vezes não compreendemos ou dela não tomamos consciência. Apesar de inconsciente, estes gestos atuam constantemente e possuem um objetivo e uma intensidade. Quando criança somos regidos em grande parte por esta energia livre, que nos faz buscar alimento quando temos fome, água quando temos sede, ter raiva quando somos frustrados enfim neste período da vida há uma busca constante e imediata pela realização, não conseguimos adiar o prazer porque ainda não sabemos suportar as imposições do meio. Dependemos em grande parte do outro para sobreviver fisicamente, emocionalmente, cognitivamente e socialmente. Percebemos o mundo através de sensações táteis, visuais, auditivas e gustativas. É assim que conhecemos o mundo. É assim que começamos a registrar fatos, situações e fixá-las através da memória. Começamos a construir nosso arquivo, a dar nomes aos sentimentos e emoções. Esta força é, para a psicanálise, o principio do prazer.

A cada estímulo e exposição às exigências do meio, vamos aprendendo a transformar esta força adiando a realização imediata do prazer. Descobrimos que para sobreviver precisamos nos adaptar ao que é exigido pela sociedade, a qual começa a ser internalizada como a lei da sobrevivência e do bem viver. Aprendemos com o tempo a adiar a realização do prazer imediato por algo que mais tarde possa ser prazeroso e duradouro. Esta segunda força, a psicanálise a denomina de pulsão de vida regido pelo princípio da realidade. Assim, fazendo uso de um trecho da obra de Herbert Marcuse, Eros e Civilização, acrescento: “quando se estabelece o princípio de realidade, o ser humano que, sob o princípio do prazer, pouco mais seria um feixe de impulsos animais, converte-se num ego organizado”. É sob o princípio da realidade, que desenvolvemos a função da razão e a partir dela adquirimos as faculdades da atenção, memória e do discernimento. A capacidade de adaptação às exigências do meio harmonizando as tendências internas com a demanda da sociedade no processo de civilização é o que caracteriza o equilíbrio psíquico e afetivo.

Para Hartmann (Psicologia do Ego), além da função defensiva do ego, a sua autonomia diante da influência do Id capacita o indivíduo a desenvolver algumas características importantes para sua adaptação ao meio. O homem adaptado dispõe de uma flexibilidade que lhe assegura um comportamento harmonioso e regular com seu entorno.

O Grafólogo identifica, por meio de um método de análise da escrita, sinais do equilíbrio psíquico e afetivo do escritor. A Grafologia ao estudar a psicodinâmica do espaço gráfico vai delineando um perfil de personalidade que sinaliza, o uso da reflexão e o juízo crítico, o autocontrole mental da conduta, o caráter prudente, sereno, judicioso, confiável, sensível e imparcial que caracterizam como o escritor lida com suas necessidades internas e as demandas da sociedade. Como os movimentos gráficos expressam a forma com que a pessoa pensa, sente e se comporta, esperamos do seu grafismo uma certa harmonia ou sua ausência na onda gráfica. É a harmonia do espaço gráfico como um todo que revelará o equilíbrio ou desequilíbrio da forma de tratar com os outros e com suas necessidades.

Pessoas que aprenderam a lidar com os conflitos psíquicos expressam em sua escrita os seguintes sinais:

  • Forma simplificada e sóbria com suaves oscilações entre curva e ângulo.
  • Direção da escrita ligeiramente ascendente sem rigidez.
  • Dinamismo progressivo e elástico.
  • Escrita ligada e/ou combinada.
  • Equilíbrio entre as zonas superior, média e inferior.
  • Pressão firme e suave.
  • Velocidade de mediana para rápida.
  • Dentre outros. 

Pessoas que apresentam dificuldade para lidar com os conflitos psíquicos expressam em sua escrita os seguintes sinais:

  • Escrita confusa com curvas ou ângulos acentuados.
  • Forte oscilação na direção das linhas.
  • Escritas contidas ou movimento propulsivo.
  • Escrita desproporcional.
  • Letras coladas.
  • Pressão exagerada.
  • Hipertensa.

Entre os polos opostos acima descritos consideramos as diferentes nuances assumidas nos diferentes tipos de caráter. O estudo dos sinais gráficos e suas combinações, levando em conta a análise da estrutura e da dinâmica da escrita de cada autor, possibilitará a percepção das nuances e tendências de seu comportamento, das defesas usadas pelo ego e da forma como cada um lida com a ansiedade. Evidentemente o rol de características acima citado não tem o propósito de esgotar todo o elenco de traços significativos nem tampouco a ciência da escrita define uma fórmula para tipos de comportamentos. A grafologia considera em seus estudos, a diferenças individuais e tem como princípio norteador de toda sua atividade que não existe uma escrita igual a outra assim como não existe uma personalidade igual a outra.

Alíria Souza – Psicóloga e Grafóloga – Recife