- Quando analisamos a relação entre Forma, Movimento e Espaço gráfico em determinado texto e identificamos uma integração entre eles podemos concluir que há aí a expressão de uma personalidade equilibrada, harmônica e estável. Este tripé é o princípio que norteia o estudo da personalidade por meio da análise de todo gesto gráfico.
FORMA
A Forma da letra é a estrutura do traçado. Quando a criança aprende a escrever, recebe o comando para seguir uma norma, uma convenção a qual representa um modelo do que dela se espera. A escrita precisa ser limpa, firme e organizada dentro de uma espaço gráfico tornando-se legível, fazendo assim com que o escritor se faça entender. Além disto, no nosso modelo de escrita, pede-se uma forma redonda com enlaces bem estruturados e curvos que se apoiem e sigam uma linha reta e não se misturem com as outras linhas. Cada letra tem um modelo a seguir, cada ligação entre letras precisa seguir um curso padronizado. Algumas crianças conseguem, ao longo das séries iniciais, seguir este padrão, o que sinaliza uma subordinação de seus impulsos e energia vital ao que dela é exigido pela professora e pais e assim sendo alcançada as leis da chamada caligrafia. Outras crianças seguem o curso do processo de alfabetização sem conseguir administrar seus movimentos de modo a obter resultados que não agradam aos responsáveis por sua educação. Estes pequeninos copiam o modelo muitas vezes fazendo um traçado quebrado, pontiagudo, com várias inclinações que fogem a posição reta do eixo central da letra. Por mais que se esforcem, não conseguem controlar seus impulsos e portanto, a forma que deveria seguir, o « correto padrão esperado pela convenção », resultando em um traçado dominado por um movimento que se estende para frente e/ou para trás para cima e/ou para baixo além da linha determinada pela ordem solicitada. Outras crianças fracassam nesta tarefa porque a tensão reprime sua expansividade e espontaneidade e não exploram o suficiente o espaço a sua frente muitas vezes porque seguram o lápis tão fortemente e pesadamente no papel imprimindo uma forte pressão que resulta no que a física denomina de arrasto. O atrito produzido entre o lápis e o papel dificulta a evolução do traçado. O arrasto interfere no movimento adicionando perda de rendimento no deslocamento dentro do espaço. Este movimento « travado » dá o aspecto de uma escrita contida e tensa como se estivesse lutando com o papel, ou simbolicamente com o espaço social ou ainda seu entorno. É um conflito gerado na tentativa de construir uma forma. Pensamos que na verdade o conflito se dá entre os instintos e às exigências do mundo externo.
MOVIMENTO
Para Rudolf Pophal a tensão muscular corresponde a um estado de tensão psicológico ou intelectual e todo estado interior exterioriza-se por um movimento em analogia com este estado. A Ciência da escrita estuda o movimento e o classifica em dez tipos: estático, flutuante, inibido, contido, controlado, fluido, vibrante, efervescente, dinâmico, propulsivo, retardado e revirados para a esquerda. Cada tipo de movimento, analisado em conjunto com outros aspectos do texto escrito, revela como o escritor estabelece suas relações sociais, como responde aos conflitos, qual seu rendimento no trabalho, como lida com seus impulsos etc. O
Movimento em Grafologia significa temperamento e é identificado pelo deslocamento do traçado no espaço gráfico.
« Um corpo permanecerá imóvel ou inerte ou em movimento contínuo retilíneo uniforme, se não houver forças atuando sobre ele ». É a pressão e tensão colocadas na caneta e no papel simultaneamente que deformarão a letra. Tanto as crianças que escrevem pela impulsividade quanto as que inibem seus impulsos escrevem de forma não convencional, porém com uma espontaneidade e subjetividade pouco compreendidas. Sua impulsividade e agitação ou sua contração e tensão são logo revelados no gesto gráfico criado quando o lápis toca o papel e se dispõe a dar forma às letras. Formar palavras e frases numa tentativa de dar significado ao seu pensamento e ideias ou para melhor significar e transformar sua energia ou impulso em um símbolo aprendido traz para muitos, um sofrimento e um sentimento de fracasso. É aqui, neste gesto onde o movimento entra em desacordo com a forma. O resultado é a desarmonia na relação Forma, Movimento e espaço gráfico. Para muitas crianças, escrever é um gesto complicado e de grande desafio. Os traços ascendentes e descendentes, os movimentos de curvas requerem movimentos coordenados de extensão e flexão. Ao se afastar do modelo escolar ela dá um sentido individual de expressão em todo o texto. A forma como a pessoa dispõe sua escrita no papel é como se comporta no ambiente. Aprender a escrever de forma caligráfica é um indício de que a criança possui capacidade para aceitar regras e normas, possui facilidade em internalizar valores éticos e sociais e desenvolver o apego ao convencionalismo. A forma como o escritor estrutura o traçado da letra indica também alguns dados do aspecto cognitivo, como sua capacidade de organização tanto nas atividades quanto no conteúdo interno, ideias e pensamentos. A forma como faz os enlaces entre letras e a forma como pontua as palavras. Por outro lado aquelas que revelam desordem nas escritas estão indicando, do seu jeito, sua marca pessoal e individualizada, o quão é difícil se submeter ao que é exigido pelo meio no qual vive. Sua vontade desejo ou impulso vital é forte e se sobrepõem ao convencional. Esta dificuldade indica uma forte energia para ação e realização pelo impulso. A escrita é expressão da vontade e do afeto. Segundo Max Pulver, fundador da Sociedade de Grafologia da Suíça em 1950, para que a escrita possa cumprir sua função de comunicação, não deve desviar-se plenamente da convenção vigente, pois seria apenas uma expressão irracional. Ao escrever a criança precisa expressar seu afeto aprendendo a controlar, pela vontade, a forma como comunica sua emoção sem contudo perder sua individualidade e subjetividade. O processo de desenvolvimento e amadurecimento da personalidade está intimamente relacionado a habilidade da escrita como forma de expressão e não apenas para atender ao convencional. A longo de sua vida acadêmica o jovem enfrenta mudanças decorrente de fatores externos e internos, toma decisões, sofre perdas, passa por situações que exigem comportamentos e atitudes diferentes e novas. Tais aspectos da vida cotidiana deixam marcas significativas e matizam a personalidade. Ao longo do seu desenvolvimento e pela aprendizagem, a pessoa busca adaptar seus instintos mais primários às exigências da sociedade. Este processo de adaptação será expresso através da escrita. Desta forma, a escrita é a expressão da Personalidade.
Alíria Souza – Psicóloga e Grafóloga - Recife