Após o estudo técnico chega o momento de formular, não mais para si, mas para outro aquilo que foi observado. Isto é, chega o momento em que o grafólogo tem que transmitir aquilo que percebeu da personalidade do autor do grafismo.
Passar da observação técnica para os termos definidos não se faz sem dificuldade, e em seguida exprimir-se fluidamente é uma tentativa igualmente difícil.
Cada grafólogo apresenta os resultados de seu estudo à sua maneira. Cada um com sua linguagem e sensibilidade, sua maneira de fazer; não há nenhum gabarito nem modelo para seguir.
As sugestões que seguem são destinadas aos estudantes de grafologia e principalmente aos associados da AGGBR. Alguns escrevem como se se encontrassem em uma situação ‘artificial’, como em um ‘exercício’, contudo, é necessário esclarecer que o perfil que redigem não será lido unicamente talvez por um professor, mas sim pelos autores da escrita, mesmo que o pedido de análise tenha sido feito por terceiros. Da mesma forma que um balanço será lido por quem o pediu, pois lhe pertence, quem pediu o perfil grafológico tem o direito de lê-lo.
Transmitir pela escrita quer dizer deixar um traço: o perfil pode ser lido, relido, guardado.
Se as palavras podem ressoar por muito tempo após terem sido pronunciadas com o mesmo impacto, a escrita, de uma certa maneira, ‘oficializa’ as coisas e lhes dá um caráter imutável. Todos conhecem o poder das palavras, que são importantes não por si mesmas, mas sim pelo que elas provocam. Podem fazer nascer ou renascer emoções, suscitar rancores, apaziguar ou ferir.
Eis a razão pela qual o grafólogo fala na terceira pessoa e não na segunda: para manter distância.
O papel do grafólogo é “colocar em palavras”, aquilo que pôde perceber, as quais devem ser próprias, escolhendo-as com sutileza, prudência e modéstia.
Compreender e ler o que a escrita ‘diz’ de si é o que certamente o escritor espera ao confiar sua escrita a um grafólogo. Esta expectativa é ao mesmo tempo curiosa e inquieta.
Cada um deve saber o que pode escrever e o que não escrever; estar atento à escolha das palavras e jamais levar o perfil como diagnóstico médico, além de trabalhar com confidencialidade.
É indispensável, antes de empreender o estudo de uma escrita, recolher o máximo de informações do escritor, de sua história pessoal e as razões pelas quais quer um perfil grafológico.
Estudantes pedem em geral um gabarito que seja aplicável a todas as escritas. Ora, como as escritas são pessoas que escrevem, e sendo cada escrita única, não há um gabarito único para fazer o estudo grafológico. Ao mesmo tempo, podemos propor uma sequência geral, já testada, clássica, que pode ser um fio condutor para deixar a redação mais clara: introdução, desenvolvimento e conclusão.
A introdução esboça a personalidade de escritor em algumas frases e anuncia as grandes linhas do desenvolvimento.
O desenvolvimento descreve de maneira a mais precisa possível seus modos de funcionamento, sua maneira de ser, seus comportamentos. Não se trata de descrever uma personalidade mencionando seus aspectos positivos ou usar uma linguagem sibilina, mas sim de descrevê-la sem julgamento de valor, sem tomar partido, ligando as coisas, dando significado, articulando os elementos entre eles.
A conclusão rememora brevemente os pontos desenvolvidos ou reúne os mais característicos.
Conforme for avançando e à medida que for elaborando o estudo técnico é que se formam e se determinam os elementos de interpretação. É necessário antes de entrar na redação propriamente dita que o estudante tenha na cabeça os fios diretores de seu perfil.
A aproximação global sublinhando os aspectos característicos da escrita contém, em termos técnicos, as grandes linhas do perfil.
Retomemos a escrita sugerida e ao conteúdo de aproximação global proposto. Destacamos três eixos. Servirão de esboço, de fios condutores do desenvolvimento. Assim, a aproximação global pode conter o início de uma conclusão.
É importante que o estudante dê uma particular atenção às palavras que escolha nas síndromes grafológicas. Essas palavras serão as chaves que caracterizarão a personalidade do escritor.
Enfim, tomando metodicamente as espécies e associando-as enriquecemos o desenvolvimento, especificando e alargando o conteúdo das síndromes.
Não há um modelo de redação, cada um tem sua sensibilidade, sua maneira de se expressar. O trabalho de redigir exige precisão, perspicácia na escolha das palavras, simplicidade de expressão, clareza de linguagem.
O perfil se destina a uma pessoa, é o que o grafólogo ou estudante de grafologia não pode esquecer.
(Traduzido e adaptado de texto de Veronique de Villeneuve, da Sociedade Francesa de Grafologia, La Graphologie, abril, 2005)